A benção de ser mãe

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Meu primeiro emprego no Japão


Uma asagao
Foto- Rose Nakamura
texto- Rose Nakamura

Meu primeiro emprego no Japão

Fábrica de macarrão

Na fábrica de macarrão encontrei muitos brasileiros. Meu primeiro dia foi horrível. Trabalhei treze horas. No primeiro momento fiquei pegando macarrão que saia de uma máquina que ia soltando macarrão e eu tinha que pegar a quantidade certinha e pesar colocando em seguida na embalagem tudo muito rápido, senão o líder da linha de montagem gritava quase que histericamente. Quando chegaram dezesseis horas minha coluna não ficava mais reta e eu ainda tinha que trabalhar até as 21 horas. Nesse dia eu trabalhei na parte da tarde totalmente arqueada. Era muito estranho andar daquela maneira dentro da fábrica. Enfrentei muitos olhares. Para mim foi muito triste, chorei escondido e também fiquei muito assustada, além de estar lutando com muitas dores musculares. Minha cabeça doía muito estava muito tensionada.
O que me dava força para sustentar aquela situação é saber que meu filho aguardava minha volta e eu precisava atingir meu objetivo que era realizar minha cirurgia. O sorriso que eu guardava na minha lembrança me dava forças para continuar. Eu tinha certeza que estava bem cuidado.
Eu estava muito cansada e minha colega de serviço falava para que eu me esforçasse mais senão não iria ser aprovada no serviço. Sinceramente eu não entendia como deveria me esforçar mais, pois estava no meu limite. Eu não tinha onde ir buscar mais forças já tinha dado tudo de mim e as dores estavam tornando insuportáveis. E existe coisa que só com mais de uma semana dá pra notar em um serviço e começar executar, como por exemplo, caixas que deve ficar próxima o que deve ser retirado do local naquele momento para desenvolver aquele trabalho de forma mais eficiente.
Uma japonesa falou que eu estava com aparência muito cansada e que isso não era bom, pois demonstrava que estava desanimada e também era para eu sorrir mais e ser mais simpática. No primeiro intervalo minha colega brasileira me chamou no banheiro mandou eu lavar o rosto com água gelada arrumou meus cabelos e fez uma maquiagem rápida para evitar tantos comentários. Escolheu na máquina um vidro pequeno de energizante para que eu pudesse tomar rapidamente já que o intervalo era de apenas 10 minutos, mas o que adiantava eu cuidar da aparência se estava com a coluna travada andando como uma pessoa muito idosa e sofria dores horríveis e lagrimas rolavam de dor e eu tentava disfarçar.
De volta para casa subi as escadas de quatro pés, pois não tinha mais forças. Estávamos morando no segundo andar. Chorei muito como nunca na vida. Eu pensei que no que no outro dia eu não iria conseguir levantar. Com ajuda de meu marido tomei um banho de ôfuro- banheira japonesa com sais de banho e um remédio para dores musculares. O meu marido fez muitas massagens localizadas com pomadas antiinflamatórias que trouxemos do Brasil. Depois ele foi até o supermercado próximo que estava para fechar e trouxe um saboroso peixe com gengibre. Logo dormi e no outro dia estava bem para ir ao trabalho, só que com o coração apertado pois sabia que seria mais um dia de sofrimento. Porém não aceitei de maneira alguma fazer 3 horas extras quis sair no horário normal.
Observei bastante ao meu redor tudo o que acontecia. Aquela nuvem de japonesas que andavam atrás da gente sempre criticando ou procurando algo errado, era muito desgastante. Às vezes empurrava a mão da gente longe quando ia ensinar alguma coisa. Eu comentava com alguma amiga que queria aprender a falar elas logo queriam saber o que eu estava falando e quando sabia gritavam tem que aprender a trabalhar primeiro.
Eu notava que a jovem japonesa que trabalhava ao meu lado tinha os dedos das mãos totalmente roxos de tanto trabalhar. Era uma jovem aparentando uns vinte anos. No rosto a maquiagem definitiva e um sorriso bonito. A jovem trabalhava arduamente sempre com um sorriso nos lábios, e pronta para orientar. Trabalhava com disposição, mas não fazia horas extras deveria ter filhos pequenos.


A fábrica parecia uma casa de detenção



Eu tinha uma sensação horrível ao entrar naquela fábrica, dava um desespero muito grande. U aperto no peito. Para mim era um lugar carregado de energia negativa e muito sofrimento. O meu mal estar começava quando o carro da empreiteira se aproximava daquele local. A impressão é que era uma casa de detenção e as pessoas estavam ali executando trabalho forçado para diminuir sua pena. Todo mundo era mal humorado principalmente as japonesas mais velhas que eram chatíssimas e muito estressadas.
No carro eu tinha que tomar cuidado com as palavras pois a tantousha que é a representante da empreiteira que nos levava passava tudo para o Patrão do qual era seu esposo ou então me encheria de criticas e seus conselhos de como ser uma boa escrava. Viajava 45 minutos até chegar na fábrica, no carro já começava meu enjôo pois o aromatizador usado no carro era de um perfume muito forte que logo de manhã me causava muito enjôo. Além de ficar ouvindo seus conselhos com a sua vozinha irritante e ali percebia que todos ficavam quietinhos só ouvindo.
Na frente do veículo tinha um tigre de pelúcia do qual me irritava profundamente. Aqui as pessoas costumam enfeitar carros bicicletas às vezes dou boas risadas olhando carros que mais parassem carros alegóricos.
No final do expediente do segundo dia eu não quis fazer hora extra e pedi para uma colega comunicar ao chefe que iria sair mais cedo e que avisasse a minha empreiteira para me buscar. Saindo lá estava a tantousha me esperando e não quis levar mais ninguém nesse horário só para conversar comigo a sós. Ela me deu muitos conselhos disse que ali naquele local e no Japão em geral eu teria que ser forte psicologicamente e agüentar as coisas quietinhas. Falava para eu jamais contar que no Brasil era jornalista senão seria muito discriminada.
Eu entendi perfeitamente tudo o que ela estava me dizendo pois num ambiente como aquele só com muito equilíbrio psicológico para agüentar. Eu confesso que não estava preparada para tanto. Não adiantava fazer pensamento positivo nem muito menos deixar para lá as criticas, pois eram muito forte indo além do meu estado emocional que se apresentava abaladissimo mais ainda eu me mostrava forte.
As colegas brasileiras não eram tão chatas apenas uma senhora que normalmente parecia legal, mas quando tinha algum funcionário japonês por perto ela se transformava e começava torna-se se autoritária e começava a gritar para eu ir rápido para observar mais o ambiente e falava repetidamente - Você já perguntou isso e eu não perco meu tempo respondendo duas vezes. Tudo isso para demonstrar eficiência na frente do japonês. Infelizmente notei isso muitas vezes aqui no Japão, os veteranos não gostam de explicar mais de uma vez eu sempre procurava ajudar os novatos mas sempre era chamada atenção para que não fizesse mais isso.


Você não serve

Até que um dia eu me encontrava sozinha com dois chefinhos de linha de produção e como não sabia nada de nihongo (japonês). Eu não tinha reparado que nas embalagens de macarrão continham kanjis e faixas com cores também diferentes.
E eu misturava tudo numa caixa e os chefinhos colocavam a fita crepe e encaminhava para serem embarcados no caminhão. Quando de repente entrou um japonês de meia idade, forte, alto e moreno, que eu já tinha visto no refeitório, elaborando uma planilha de custos. Esse senhor falou algo para mim que eu não entendi.
Ele estava dizendo para eu parar de embalar, pois eu estava fazendo errado, eu pensei algo totalmente diferente achei que era para eu continuar e fazer tudo mais rápido e continue executando então ele gritou novamente e eu continue trabalhando pois os dois japoneses que estavam do meu lado eram chefes e experientes na função porque que mesmo observando o que estava errado não voltava à caixa para mim ou ia chamar alguma funcionária que e falava o português para traduzir que eu estava fazendo algo errado, mas eles estavam com tanto medo e a produção estava atrasada que resolveram se omitir.
Lagrimas escorriam de meu rosto e uma frase em português, mal soletrada saiu da boca do chefe japonês Você não serve¨, repetiu muitas vezes. Quando chorei ele se irritou muito mais.
Ele ameaçou pegar um daicha que é um carrinho de ferro que ficam no chão e me ameaçou eu sai correndo e chorando muito perdendo totalmente o controle de mim mesma.
Fui para numa salinha aonde o pessoal da sessão de queijo frito-aburague- descansavam lá chorei muito e tremia, tudo girava em minha volta . Em minha volta apareceram muitas japonesas tentando me acalmar e achei muito interessante a amizade e o companheirismo que aquelas jovens demonstravam. As brasileiras procuram não se manifestar concordo com elas, pois não queriam se envolver.
Lá estava o filho da tantoucha que também trabalhava nessa fábrica. Ele ligou imediatamente para a mãe que me mandou buscar, sem me perguntar nada.
Meu marido que eu encontrei no corredor quando sai desesperada chorando perdeu a direção para onde eu fui demorou em me encontrar e só nos encontramos na hora de seu almoço 1 hora mais tarde do acontecido, eu ainda estava chorando. Ele correu para lá me abraçou e conseguiu me acalmar , mas a empreiteira mandou um motorista japonês me buscar. No carro ligou para a empreiteira e passou o telefone para eu conversar com a tantousha que falou porque eu tinha abandonado a fábrica e que eu jamais deveria ter feito isso eu falei que não pedi para ser retirada da fabrica e ali começou minha vida de operária
no Japão.

6 comentários:

  1. Relato importantíssimo, não para desestimular, mas principalmente conscientizar aqueles que querem ir para o Japão achando que trabalharão a mesma coisa ganhando 10 vezes mais.
    Parabéns pela sua batalha.
    Beijo

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  2. Well, só os fortes sobrevivem .... coisa pra gente grande ...

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  3. Saudações!
    Amiga Rose,
    Minha nossa senhora, isso é muito sofrimento para ser suportado por um ser humano. Poxa!
    Minha amiga, a partir de hoje vou incluir você nas minhas orações diárias e pedi a Deus que proteja você e toda a sua família.
    Abraços Fraternos,
    LISON.

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  4. AMADA ROSE,UM LINDO INICIO DE 2010,AMO MUITO O TEU TRABALHO E SOU TUA AMIGA NO ORKUT,BEIJINHOS FLORA...

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  5. Rose , Li tua historia , e confesso que aqui em Israel passamos o mesmo, qdo vc nao sabe falar o idioma, e esta longe da familia fica muito sensivel, e os brasileiros veterenos que deveriam ser mais solidarios acabam querendo mostra servico. Te admiro por ser uma pessoa lutadora , a para atuar como na profissao como era no Brasil leva tempo ...Mas no comeco eh tudo muito dificil, so os corajosos e persistente que aguentam ... Parabens !!!
    Lais Worek sua amiga do orkut..rs

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  6. Olha Rose, além do idioma tem também o fato de alguns povos acharem q são superiores. Isso aconteceu comigo na Inglaterra. Meu inglês n era grande coisa e fui trabalhar em fábricas. A jornada de trabalho chegava a ultrapassar as 12 hs. Além disso fiquei hospedada em uma casa de família de brasileiros e portugueses, um ambiente horrível, uma família de psicopatas (juro)muitas exigências, muita exploração. Eram as exigências na fábrica e ali, além do mau ambiente. Sossego zero. Já encontrou gente má (de maldade mesmo)? Eu cheguei a sentir medo. Meus 48 anos têm muita história.

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